as boas notícias da catita #54
a gente não deveria andar distraído no mundo (e um recadinho no final)
pra ouvir enquanto abre a janela e passa o café:
a gente não deveria estar no mundo apenas por estar. há sempre uma razão pela qual ocupamos um determinado espaço-tempo. e há sempre um motivo pelo qual escolhemos ocupar determinado espaço-tempo.
li as palavras intenção, propósito e consistência juntas outro dia e, semanticamente, se a gente prestar atenção, elas foram feitas para existirem ali, coladinhas. separadas ou usadas desatentamente, são só palavras. juntas, são significado.
sou uma pessoa naturalmente distraída, daquelas que desassociam facil e não-intencionalmente. só acontece. veja bem, não estou falando de algum transtorno de atenção, estou falando sobre distração. vejo coelhos nas nuvens, coleciono episódios de quase-atropelamentos, saio no meio de reuniões e vou fazer outra coisa, esqueço chaleiras no fogo, me desligo com mais frequência do que gostaria no meio de conversas longas e tendo a fugir de DR's porque quase sempre, em poucos minutos, canso ou esqueço do motivo pelo qual a conversa começou. se elas acontecem na cama, eu viro para o lado e durmo em uma dúzia de segundos. já falei que esqueço chaleiras no fogo? parece charmoso, mas na verdade é perigoso e um imbróglio nas minhas relações mais profundas. talvez seja esse um dos motivos pelos quais deixo poucas relações se tornarem tão profundas. vejo minha filha apresentar também os sinais dessa distração e ouço, entre a ternura e a preocupação, meu companheiro proferir entre risos: “meu deus, é igualzinha a você, amor”.
o fato é que essa minha característica contrasta diretamente com o jeito com que eu gosto de estar presente no mundo. faço tudo muito melhor quando presto atenção. escrevo, passo café, transo, discuto política, ensino melhor, materno melhor. crio vínculos. com certa frequência, preciso lançar mão de estratégias de atenção plena pra melhorar a presença no que estou vivendo, desde meditação e exercícios de respiração até lista de tarefas e pomodoro. bobeou, me distraí com um livro na mesa, arrumando minhas canetas ou com a pior das distrações, o celular.
talvez a intenção, o propósito e a consistência do início desse texto sejam espécies de âncoras que me mantêm presente e, por isso, tenham feito tanto sentido. a intenção é o começo, essa semente de cada ação que precisa ser consciente, esse desejo deliberado de estar no momento, de escolher estar ali de corpo e mente. quando decido, por exemplo, dedicar alguns minutos à meditação, minha intenção é clara: quero estar presente. é esse o impulso inicial que me tira do torpor da minha usual distração e me coloca no presente.
o propósito é meu fio condutor, é o porquê por trás de cada intenção. e eu posso dizer com segurança que ele é o significado maior, é o que dá sentido às minhas ações. viver com propósito é reconhecer que eu vivo no coletivo. e é o propósito que me lembra que estar presente enquanto escrevo, ensino ou cuido da minha filha. não é só um exercício de disciplina, é uma forma de honrar e valorizar esses momentos.
já a consistência está mais para um elo que une isso tudo na prática. é o hábito formado pela repetição consciente. sem ela, intenção e propósito perdem força. é a prática de meditação, a repetição das listas de tarefas, o compromisso constante de afastar as distrações que me permite realmente estar presente. não é um esforço único, mas um exercício diário de reafirmar minha escolha de viver com atenção. é o despertador que toca todas as manhãs.
a gente não deveria estar no mundo apenas por estar.
a gente não deveria andar distraído no mundo.
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as boas notícias da catita nasceu - em junho de 2017 - como um espaço para compartilhar bons exemplos. nasceu com intenção de propagar boas notícias no mundo. era um exercício diário de olhar para o que acontecia de bom e positivo todos os dias e extrair dali algo que inspirasse, tirasse da gente um suspiro de alívio de aliviasse a carga que é viver sobre o bombardeio violento da realidade. de lá pra cá, ficou muito mais difícil ser esse contraponto e essa news se tornou muito mais uma conversa pessoal do que seu propósito inicial. coincidentemente, ou não, enquanto ruminava o tema dessa edição, assisti ao TED talk do angus hervey, da fix the news, uma newsletter que se propõe a ser um sopro de esperança através de boas notícias.
no fim das contas, esse tema talvez tenha me chamado também pra essa reconexão com o que me motivou a criar essa news. presente e atenta, fato posto é que isso vai acontecer e, finalmente, com convidados, com boas notícias e também com aquela velha e boa curadoria exclusiva - além de outros benefícios exclusivos para os assinantes pagos, as boas notícias da catita vão voltar.
na próxima edição, já chego com uma convidada bem especial. estejam presentes ❤️
feliz sete anos pra gente!
um beijo,
cariño
catita :)
eu amei muito essa reflexão toda e deixei o texto aqui na caixa de entrada, sem arquivar, para reler de vez em quando. obrigada <3
tem tanta coisa legal nesse mundo, se a gente prestar atenção. tipo a news da catita <3