as boas notícias da catita #31
pra ler ouvindo.
eu ando refletindo sobre coragem e no que nós costumamos relacionar a ela. chamamos as pessoas ao nosso redor de corajosas com alguma frequência porque atribuímos à coragem o que para nós, é extraordinário, aquilo que temos certo que não faríamos se estivéssemos na mesma situação.
segundo esse livrão aqui (infelizmente não encontrei essa joia em português), sobre as virtudes do caráter como construção psicológica, histórica e social, a coragem tem quatro componentes: honestidade, bravura, entusiasmo e perseverança. hoje, ao pensar isso, lembrei do exemplo mais imediato, o da leilane, a mulher que salvou o motorista do caminhão no acidente da última segunda-feira - por isso também ela é a imagem que ilustra essa news, quebrando temporariamente a cultura de só expor o trampo de mulheres artistas - porque o que ela fez exigiu dela todos esses atributos de coragem.
porém, assim como atribuímos à coragem exemplos como o da leilane, atribuímos à coragem nossas limitações, equívocos e preconceitos. quer outro exemplo? postei essa foto no meu instagram hoje mais cedo e a ela também foi atribuída a coragem. mas qual é exatamente a coragem imbuída nela? a coragem de uma mulher - uma mulher gorda - de mostrar seu corpo? não deveria, simplesmente porque não deveria ser encarado como coragem o que deve ser encarado como natural. lembra ali em cima do "aquilo que temos certo que não faríamos se estivéssemos na mesma situação"? ele se aplica ao caso da leilane, mas ele não se aplica ao meu nude, porque ao aplicá-lo, empurramos junto uma carga de preconceito e inadequação.
acho mesmo que precisamos ter exemplos de coragem e pessoas extraordinárias para nos inspirarmos por sua bravura e acreditarmos em dias melhores, mas precisamos também naturalizar mais as condutas cotidianas, e só vamos conseguir chegar a isso com práticas mais reflexivas e menos automáticas.
❤ e por falar em práticas mais reflexivas, eu li esse texto da the school of life sobre a importância de buscarmos saber quem somos para podermos atingir nosso potencial e queria destacar um trecho especial que fala que nunca é tarde para isso:
perceber que não temos uma identidade estável é algo sério, mas, com o vento a favor, poderemos começar a corrigir o problema a qualquer momento. precisamos buscar a ajuda de uma pessoa sábia e gentil, talvez um bom psicoterapeuta, que possa nos estudar de perto, espelhar adequadamente e validar o que vê. pelos olhos dela, podemos aprender a estudar, talvez pela primeira vez, como realmente nos sentimos e levar a sério o que realmente queremos. ao sermos vistos generosamente, podemos nos defender e nos sentir cada vez mais firmes, confiando em nós mesmos mais do que na multidão, sentindo que talvez consigamos dizer “não”, nem sempre balançando conforme o vento e sentindo que temos em mãos algumas das verdades essenciais sobre nós.
❤ da the school of life também veio esse texto sobre criatividade e como ela é importante demais para ser deixada apenas para os artistas. e assim como saber quem somos, nunca é tarde para buscarmos mais criatividade, seja por necessidade ou por curiosidade, e melhorar nossas vidas e a dos que nos cercam.
❤ uma lição pra minha vida e que ainda será tema de uma news (leiam esse texto, por favor):
você se torna um amigo melhor porque vê que a amizade é, na realidade, uma partilha de vulnerabilidades.
❤ esse movimento maravilhoso de 2019, dando "às musas" de artistas famosos o lugar que é delas de direito: a luz da história.
❤ essa história de amor (mas por favor, não visitem aquários, zoológicos ou quaisquer lugares que tratam os bichinhos como entretenimento).
❤ esse podcast da @umacertagabi que comenta literatura do jeitinho que ela deve ser comentada.
bora falar do que estou lendo e assistindo.
nesse início de ano tô levando na cara direto, coisa bem boa é ler e ser transformado. lembrando que quando você clica em um link de livro aqui você é direcionado para o site da amazon e, se você compra os livros pelos links da minha news, você ajuda essa criadora de conteúdo a pagar seus boletos. <3
❤ a primeira leitura do ano foi fome, da roxane gay. esse livro estava há dois anos na minha lista e finalmente agora encontrei o momento de lê-lo. perdi as contas de quantas vezes fiquei machucada com essa leitura, fiquei puta da cara com o mundo, senti empatia e amor por essa mulher. eu quis abraçá-la, eu quis tirar sua dor com a mão, quem dera fosse possível. sobre uma vida de estranhamento, nojo, boicote, punição, medo e vergonha do próprio corpo. que livro forte.
❤ li também dumplin', da julie murphy, - virou um filme tão meia boca na netflix - que é um livro que sintetiza a vida das adolescentes gordas. um livro sobre o que é da nossa vida, dos dilemas e afetos reais. eu queria que a catita de dezesseis anos tivesse lido esse livro pra entender melhor porque estava tudo bem.
❤ na semana passada, a escolha foi por pagar uma dívida comigo mesma e voltar a me encontrar com virginia woolf. li um teto todo seu, influenciada pelo podcast da gabi, e lembrei que escritora maravilhosa é essa. o livro é baseado em palestras em que ela refletiu sobre a produção literária feminina e sobre como a posição social a que a mulher está condicionada afeta a sua expressão. ótimo para referências. e também entender o contexto da própria virginia, já que o livro traz uma seleção de trechos dos seus diários na época.
❤ em uma manhã de sábado li também o livro novo da aline valek, bobagens imperdíveis pra ler numa manhã de sábado, com os melhores textos da antiga news da escritora. foi uma delícia passar um café e reler textos que já tinham me tocado. a literatura da aline é muito humana, é exatamente o que a gente sente.
❤ o alain de botton nos chama para conversas bem mais abertas e naturais sobre sexo nesse livro aqui. também li rapidinho um dia desses. são boas chamadas pra gente pensar mais profundamente sobre isso e não ficarmos no campo do tabu.
❤ tô patinando com a viagem do elefante, do saramago. não consegui terminar ainda, não sei se não gosto ou não entendi muito bem. alguém já leu?
❤ por fim, e sim, mais importante, é falar de vox, da christina dalcher. ele chegou aqui em casa ontem à tarde e eu já estou na metade das suas 300 e poucas páginas porque não conseguia parar de ler ontem à noite. ele é apavorante porque é um romance, uma ficção distópica sobre silenciamento das mulheres, fundamentalismo religioso e política que se passa nos estados unidos, mas narra quase literalmente o que estamos vivendo aqui. as mulheres sendo caladas, impedidas de trabalhar, de ensinar, de aprender, de serem donas de si. é muito violento. eu vou voltar a falar dele na próxima news, depois que terminar a leitura, mas sério. sério!
espere só. daqui a alguns anos vai ser um mundo diferente se a gente não fizer alguma coisa. expansão do cinturão da bíblia, uma representação de bosta no congresso e um bando de garotinhos famintos por poder que estão cansados de ouvir dizer que precisam ser mais sensíveis. [...] e não pense que serão todos homens. as recatadas do lar vão estar ao lado deles.
essa news já está bem longa, mas deixa eu falar aqui rapidinho também das recomendações dos melhores filmes e séries que assisti nesses primeiros 45 dias de 2019.
❤ o stand up américa latina para imbecis, com john leguizamo, é imperdível. em uma hora e meia, ele conta a história da américa latina com referências literárias, visão crítica e muito humor. tem um certo sexismo em alguns trechos, mas perdoáveis porque também tem ele afirmando que as veias abertas da américa latina deveria ser a bíblia de todo pai latinoamericano.
❤ sementes podres é uma comédia francesa do kheiron com ele e a catherine deneuve que tocou meu coração. um filme bonito sobre segundas chances e sobre construir sensibilidade e empatia.
❤ amália, a secretária é uma comédia colombiana bem divertida.
❤ dumplin'n é baseada no livro que eu falei ali em cima. boa, deve ser assistida, mas a narrativa do livro é tão bem construída e aqui foram cortadas partes essenciais. é uma pena.
❤ a senhora da van é muito sensacional, humor inglês purinho e beirando o absurdo.
❤ a livraria é um filme pra alimentar o sonho de ter uma livraria linda numa cidade charmosa nessa vida.
❤ se você quer assistir a uma série rápida, divertida e inteligente, minha recomendação é a francesa dix pour cent. três temporadas do cotidiano de uma agência de atores franceses, com uma diversidade de tipos bem massa.
❤ se você quer se apaixonar, sex education.
perdoa essa extensão toda da newsletter do mês e não desiste de mim.
me segue no instagram pra acompanhar os rolês da vida, um beijo e até a próxima news.
catita
❤ a ilustração dessa news, quebrando um pouco a prática por aqui, é do @angelofrance.